25 de dezembro de 2009

Y'know I'm blind so why d'you disagree?

Garrafas de vodka, telefone fora do gancho com a luz vermelha indicando novas mensagens na secretária eletrônica ,uma caixa de pizza com sete pedaços pintados de negro pelas formigas, dois cartões gasgados, um ainda intacto sob o tapete, certamente chegara pela manhã. Porta-retratos estilhaçados,o celular no áquario.
Que diabos aconteceu aqui ontem, perguntei a mim mesma, enquanto passava a mão pela cabeça, tentando encontrar algo sobre ela, um armário, um carro, um boi talvez, que explicasse a tonelada que ela estava pesando. Cambaleando, cheguei até o banheiro, que diga-se de passagem, estava na mais perfeita ordem. Me atirei no chuveiro, lamentando somente não ter racionado o suficiente para me despir antes da água gélida começar a cair. A campainha tocando,fez perguntar-me pela primeira vez as horas e que dia era, se eu deveria estar na aula de francês, trabalhando ou na faculdade...Seja o que fosse, precisaria inventar alguma desculpa. Já estava saindo para caçar uma toalha seca em algum lugar do apartamento quando ouvi o barulho da porta sendo destracada. Ótimo, era tudo que eu precisava. Minha casa estava uma zona, eu estava deprimentemente nua procurando por uma toalha, com a cabeça explodindo , e meu celular no aquário. ÓTIMO. Olhei para o chão, e a primeira coisa que vi foi uma toalha. Mas não, não a de banho, limpa , perfumada e macia que eu tanto queria. Mas uma de mesa, que na certa, fora presente da minha mãe, em uma de suas tentativas de fazer meu 'lar' ,como ela gostava de chamar, em um 'lar de verdade', também palavras dela. Eu não comprava toalhas de mesa, muito menos com patos dos mais variados tamanhos e hortências felpudas cor-de-rosa. Respirei fundo, e senti o gosto de vodka azedando até meu último fio de cabelo, totalmente despenteado. Eu estava um lixo, fato.
Ele virou-se, depois de trancar novamente a porta.Não disse nada, analisando cada canto do que fora minha sala 24h atras. Encarou-me com aquele olhar duro. Apertou o botão da secretária eletrônica, e me fez ouvir, as 12 mensagens que ele havia deixado na noite anterior, mais algumas de alguns amigos e amigas, desejando-me 'feliz natal' , uma de minha mãe, desejando o mesmo e lamentando que eu tinha 'tanto trabalho que me esquecia da família'. Respirei fundo novamente, e novamente, desejei não tê-lo feito. Então era Natal. Não precisaria inventar desculpas no trabalho, nem na faculdade.
-Então, você ainda tem as chaves daqui... -disse, com um sorriso amarelo, as palavras saindo falhadas, minha voz estava rouca, como se tivesse gritado a noite toda.
-Sim.
-E você está aqui.
-Sim.
-E você está achando que eu enlouqueci e devo ser internada.
-Sim.
-Para de falar 'sim', que merda.
-Sim, feliz natal. Você está linda com essa estampa de patos e orquídeas.
-São hortências.
Ele riu. Não, ele gargalhou. Foi até meu quarto e voltou com um roupão que eu nem lembrava que tinha. Alías, eu não tinha. Era dele. Já fazia dois meses e eu não havia devolvido tudo que havia dele por ali, ainda. Mas isso não era problema, ele não devolvera nada, portanto, eu estava algumas caixas na dianteira.
-Obrigada.
-Disponha. Então, o que houve?
-Estou tentando lembrar...Talvez nada. Talvez apenas tenha chegado do escritório, bebido demais e feito isso.
-Entendo. Você mudou as coisas de lugar da última vez que vim até aqui.
-Só alguns puffs e o sofá. Geralmente passo as noites por aqui, então, adpatei o quarto á sala.
-Entendo.
-Eu não tenho mais as chaves do seu apartamento. Achei que você se livraria das minhas...
-Elas estavam no fundo da gaveta. Achei que não usaria mais.
-Mas usou...
-Sim.
-Porquê?
-Para verificar porquê você não atende o telefone, nem o celular, nem a campainha. E se você sobreviveu ao Natal. Você nunca vai crescer, Sophia. Vai sempre se jogar nessa garrafa e em Liam Gallagher quando sentir que está sendo fraca, ou que precisa de alguém.
Ele estava certo, mas não, eu não precisa de ninguém por ali. Tinha a minha vida, tinha feito minhas escolhas. E elas envolviam estar sozinha no natal, no ano novo, na páscoa e no raio que o parta. Mas ele estava ali, parado, tentando esconder a preocupação. Sentei me no chão, e vi quando ele se aproximou da porta. 'Não...', foi tudo que eu disse. E ele ficou, por mais um dia, por mais uma noite, mas não por mais que uma semana.

30 de outubro de 2009

Secretária Eletrônica

"Oi. São 5:35. Mais uma noite em claro. Sóbria, antes que me jogue pedras. Sóbria quando falo sobre alcool, estou embriagada de dúvidas. E essa embriaguês não passa no dia seguinte. Não me faz me sentir enjôo, não é daquelas que água fria ou qualquer 'cura-ressaca' cure. É embriaguês de você. E que venha logo a merda da ressaca, e que me faça desejar jamais ter chegado perto de você. E passe, para nunca mais voltar. Já são 5:55. E estou indo para sua casa, mas não vou te acordar. Estou te devolvendo as minhas chaves do seu apartamento. Estou deixando uma caixa com tudo que fomos. Eu não quero viver embriagada de você, pois você, meu caro, é um poço de confusão, que quando junta-se comigo, que sou tão 'poço-de-confusão' quanto você, o resultado é catastrófico. Overdose. É isso. vais encontrar um bilhete na caixa, grude-o no espelho. Tire cópias e grude por todos os cantos que te lembram a mim. Vai te fazer pensar no quão egoísta estou sendo, e fique irritado o bastante para não me procurar mais,por favor. Acabou. Tchau."


bilhete: "Te amo mesmo, talvez pra sempre. Mas nem por isso eu deixo de ser feliz ou viver minha vida. Foda-se esse amor. E foda-se você."

5 de outubro de 2009

Sophia, Sophia.

Atirei a bolsa e os sapatos, já nas mãos, ao chão. Bêbada, o cheiro de bebida e cigarro ia ficando pelos corredores por onde me arrastava até encontrar a porta. Mal me sustentava em pé, e durante o caminho os postes pareciam dançar na minha frente. Alive, na voz de Liam Gallagher deve ter acordado a cidade toda, reclamações e xingamentos dos mais variados e mal educados possíveis. Porra, eu queria era que o mundo explodisse, ou simplesmente a parte de mim que cultivava o maldito 'amor' simplesmente fosse assassinada, arrancada, devorada, extinguida. É a coisa mais ridícula, o ápice da fraqueza. E que diabos, achei que tinha me livrado dele. Mas não, eu era Sophia. Eu não tinha esse tipo de amor em mim. Desses que vêem, vão e não voltam mais. O meu, tira folga e se vê no direito de retornar e botar minha vida de cabeça pra baixo quando bem entender. Cheio de nós, nos dois sentidos da palavra. Eu era Sophia, que morava no 7º andar, e que os vizinhos odiavam. Que tomava um balde de café para se manter em pé no estágio. Que mergulhava na banheira de água gélida as 6 da manhã, para se livrar do cheiro de embriaguez da noite anterior. Sou Sophia, que aos olhos de todos se basta. Sophia, que parecia ser forte. Mas, não sou.